Sunday, October 2, 2022

Flow my tears

Ui. Tanto tempo. É quase uma década. Ao ler algumas das coisas escritas por aqui, fiquei nostálgico.

Finalmente li os quatro primeiros volumes da saga Duna. Os três primeiros da Relógio d'Água e o quarto em formato eBook da Aleph. Ainda faltam dois... Isto se se considerar apenas os do cânone do Frank Herbert. Gostei da tradução, tanto a portuguesa como a brasileira. E vi o novo filme. Muito interessante.

O mesmo não posso dizer da saga Fundação do Isaac Asimov publicada pela Saída de Emergência. O primeiro volume, Fundação, está tão cheio de gralhas e erros de tradução que nem sei como pode ter saído assim para o mercado. No entanto o problema não fica por aqui, pois no Fundação e Império as gralhas e corvos também abundam. Só no terceiro volume, Segunda Fundação, a coisa começa a melhorar, mesmo assim contendo erros que uma boa revisão teria retirado. À quarta leitura, Limites da Fundação, deixei de ligar, tendo lido o último volume, Fundação e Terra, na tradução brasileira da Aleph. Fui comparando as traduções brasileiras com a portuguesa nos outros volumes e também com o original, para concluir que estavam a parsecs de distância, para melhor entende-se, da portuguesa. É triste.

É caso para perguntar o que faz a pessoa cujo nome está nos créditos dos livros como revisora do texto. Assina de cruz? É que os ditos tomos não são propriamente baratos.

Dito isto, e tirando algumas ideias datadas no primeiro volume que agora nós fazem sorrir (ele é facas atómicas e máquinas de lavar atómicas por exemplo), fiquei com pena de ter chegado ao fim da saga. Queria mais.

(Saga Fundação)

Depois disto voltei-me para outro portanto da literatura: Ursula K. Le Guin. Reli (em boa verdade foi quase leitura nova) Os Despojados. Da Saída de Emergência. E não sei se foi por ser ainda da editora Saafa Dib, mas o certo é que só encontrei duas gralhitas numa tradução sem falhas.



Voltei-me agora para o resto do ciclo do Ecuménico da escritora começando pel'O Mundo de Rocannon na tradução de Eurico da Fonseca da Argonauta. Como ele era o Fittipaldi das traduções, aparecem algumas aberrações na tradução (Clayfolk por Barreiros, por exemplo) e uma linha inteira não traduzida (isto só no prólogo). Já era merecida uma nova tradução deste e dos outros livros do ciclo Hain para português. A escritora merecia e nós agradecíamos.

Bom, já vai longo este post e não falei do Homero e de um livro que me fez ler a Ilíada e a Odisseia  e adquirir mais uns quantos de autores gregos e latinos. Falo d'O Infinito num Junco da Irene Vallejo. Sublime.



Monday, May 19, 2014

ODE à Vida

"I've seen things you people wouldn't believe...", assim começa um dos melhores monólogos da história do cinema de FC, na minha opinião.
Pois eu vi e provei coisas deliciosas, experiências sensoriais únicas numa noite que se queria especial.
Felizmente não "estive quase morto no deserto" mas sim no Porto, esse sim "aqui tão perto".
O local: a ribeira. O nome: https://www.linkedin.com/pub/crist%C3%B3v%C3%A3o-oliveira-e-sousa/0/a55/65b). O dia: 16 de Maio.
ODE Porto Wine House (Largo do Terreiro 7, Porto). O anfitrião: Cristovão (
Ide, ide e deliciai-vos. Mas, atenção: não é comida rápida (é mesmo sloooow-foood) por isso nada de pressas,
não é económico (e não aceita cartões), por isso ide a um MB primeiro e não esqueceis de fazer reserva, pois a porta está sempre fechada
e só entra quem disser a frase mágica: "tenho uma reserva..." :)


Wednesday, October 9, 2013

eBooks e companhia


Há coisas curiosas.
Estava eu a 'arrumar' alguns pdf quando encontrei um livro do "Manual do arquitecto descalço".
Fiquei curioso (porque não me lembrava de o ter guardado). Trata-se de um livro sobre arquitectura, claro, escrito (e desenhado) para uma audiência leiga.
O autor é um holandês a viver no Brasil.
Vai daí, após o almoço dou um salto à Bulhosa cá do sítio e, por mera curiosidade fui ver se tinham o livro (o pdf era de má qualidade e o tópico interessava-me mesmo).
E não é que encontrei uma edição portuguesa à venda! Por apenas €30 (comparando com a edição Brasileira importada que custa €60 na wook.pt). Fiquei com o livro.
Assim, da descoberta de um livro em formato digital de origens duvidosas, comprei o livro verdadeiro.


O contrário também acontece.
Na mesma Bulhosa, na semana passada, vi um livro com umma capa que salta à vista (não Freitas não era teu, era do Isaías): "Ele está de volta", do Timur Vermes.
Mas acontece que não queria ter mais um romance a encher a estante (ou pilha), e por isso fui à Leya online comprrá-lo.
Fiquei assim com a versão digital para ler tranquilmente no Nexus à noite (não contando a treta do DRM que obrigou a +20 tentativas de download do livro por falta de conexão ao servidor da Adobe! Claro está que a primeira coisa feita após descarga do livro foi retirar-lhe o dito cujo DRM e convertê-lo para formato MOBI - a app Kindle é mais user friendly que a Aldiko).

E ando a ler uma versão digital d'"Os túmulos de Atuan" da Ursula Le Guin, cujos livros (a trilogia Terramar) da colecção Argonauta comprei numa feira do Livro ali para os lados da Gare do Oriente. Os ebooks não existem à venda... ahhh pois é!



Thursday, April 14, 2011

Desertos











Filme: Dune


Crio paisagens imaginárias
onde me perco de mim,
desertos nus de poemas,
dunas de silêncio sem fim.

Não sei para onde vou,
caminho na areia quente,
os olhos em busca do sonho,
o coração febril e doente.

Pergunto-me onde estarão
os versos que um dia escrevi,
onde estarão as palavras
que um dia plantei aqui...

- Ruth Ministro
in (http://a-minha-nuvem.blogspot.com)

Saturday, October 23, 2010

Funeral Blues


Filme: Quatro Casamentos e um Funeral

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He is Dead.
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the woods;
For nothing now can ever come to any good.

— W.H. Auden

O que é o amor?


Pintura: Adão e Eva
de Tamara de Łempicka

Quem sabe?

Ninguém sabe!
Toda a gente sabe!

Ninguém sabe falar,
toda a gente sabe pensar.

Ninguém consegue dizer,
toda a gente consegue ver.

Ninguém sabe mentir,
toda a gente sabe encobrir.

Ninguém sabe se é certamente,
toda a gente sabe que é eternamente.

Ninguém consegue exprimir,
toda a gente consegue sentir.

Ninguém sabe quando,
toda a gente sabe quanto.

Ninguém sabe porquê,
toda a gente sabe o quê.

Ninguém sabe se é ilusão,
toda a gente sabe que é paixão.

Ninguém sabe quem,
toda a gente sabe que é alguém.

Ninguém quer saber,
toda a gente quer ter.

Ninguém beija,
toda a gente deseja.

Ninguém consegue inventar,
toda a gente consegue amar.

Ninguém rejeita,
toda a gente aceita.

Ninguém pensa,
Toda a gente sonha.

Ninguém sabe que não é,
toda a gente sabe que é.

Ninguém sabe perguntar,
toda a gente sabe olhar.

Ninguém se sabe aproximar,
toda a gente sabe quando admirar.

Ninguém quer tentar,
toda a gente quer falar.

Ninguém quer esperar,
Toda a gente quer avançar.

Ninguém diz ai,
toda a gente cai.

Ninguém aguenta,
toda a gente tenta.

Ninguém quer sofrer,
toda a gente sabe sofrer.

Ninguém se cala,
toda a gente não fala.

Ninguém escolhe,
toda a gente colhe.

MAS AFINAL O QUE É AMAR?

Ninguém sabe!

Toda a gente sabe!

ANA B. 14 anos (circa 1998) Elefante Editores





Friday, October 22, 2010

A Morte Devagar

Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.

Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.

Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.

Martha Medeiros (atribuído falsamente a Pablo Neruda)

[http://www.sotextos.com/a_morte_devagar.htm]