Tuesday, June 26, 2007

A Balada de Cabelo Ruivo

O meu primeiro contacto com Auclair foi nas páginas do Tintim. Ainda nem sabia o que era aquilo da Banda Desenhada. As primeiras pranchas d’ “Os Peregrinos” ficaram na memória. Achei tudo aquilo diferente, a história era no presente e simultaneamente no passado e no futuro. Só muito depois soube o que queriam dizer termos como ‘ficção científica’ ou ‘futuro apocalíptico’. Lembro vagamente ter folheado as páginas e achar logo ali que a história tinha um traço diferente das outras, mais para gente crescida (eram duas páginas, como era usual na revista, com continuação para a revista seguinte).
Mais tarde – algum tempo mais tarde – consegui convencer a minha mãe a comprar alguns livros da agora extinta colecção de banda desenhada da Bertrand. Aí tomei conhecimento com o início da saga: o “Clã dos Centauros”. E aí fiquei ainda mais perplexo, pois achei que a série tinha regredido no tempo completamente, quando afinal ‘aquilo’ era passado num futuro pós-apocalíptico em que os governos, os estados, a humanidade no geral tinha quase voltado ao paleolítico, isto no primeiro volume da série pois os seguintes iriam mostrar a fibra de que era feito Auclair. Que fenomenal!
Anos depois (muitos), descobri que havia ‘o início’, um episódio-piloto que dera origem a esta fabulosa saga de “Simon du Fleuve” (já repararam como ‘Simão do rio’ não sou nada bem). E porque raio não existia esse bendito album? Parece que um problema de direitos de autor torpedeou a sua publicação. Pois é. Devido a uma insistência de plágio de uns herdeiros dos direitos de uma obra ("Le chant du Monde", de Giono), o nosso amigo Simão ficou orfão das origens durante décadas. Até que se publica em livro, primeiro em edição clandestina, e mais recentemente incluída numa biografia de Auclair (e simultaneamente uma homenagem): “La Dame Noir”.
Essa história inédita original chama-se “La Ballade de Cheveu Rouge”.
Claude Auclair faleceu em Janeiro de 1990. Acabaram-se as baladas, as mensagens ecológicas, os futuro pós-apocalipse. Extingui-se o bardo que cantava como ninguém a opressão das gentes.
Se houve leitura que marcou a minha adolescência foi sem dúvida a sua ‘Chronique des temps à venir...’

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