Friday, June 29, 2007

Os Cocos

Coco | s. m. | adj.

s. m., Bot.,

fruto do coqueiro;


Para um rapaz de dez ou onze anos, ir ao cinema significa normalmente ir ver algo que o vai divertir durante umas horas. Usualmente serão filmes de animação ou comédias, alguns filmes de acção sem excessos, e filmes fantásticos (A Guerra das Estrelas p.e.).

Numa bela quarta-feira à tarde nos idos de setenta, vi um filme que veio marcar a minha forma de ver e sentir o humor. O título parecia ser interessante e as imagens nos cartazes eram apelativas: tratava-se de uma história passada na idade média com cavaleiros de armadura e espada, castelos, donzelas e batalhas e isso tudo. Embora naquela altura às quartas-feiras houvesse sempre sessão de cinema no velho teatro D.Luís Filipe, nem sempre os títulos eram grande espingarda. Às vezes acontecia, o que a malta costumava dizer, uma ‘banhada’! Um dos que me vem à memória foi “Mon oncle d’Amérique”. Manifestamente ou não tinha idade para o ver na altura que vi, ou a nouvelle vague francesa não faz o meu género.

De regresso aos nossos cavaleiros. As imagens iniciais do filme perdem-se já nas brumas da memória, mas há uma que fica para sempre: quando saídos detrás de uns arbustos na floresta a trote dos seus ‘cavalos’, vemos um grupo de cavaleiros vestidos a rigor mas... sem cavalos! Hélas, o som do trote era nem mais nem menos do que duas metades de um coco que eles faziam soar uma na outra num movimento de braços e mãos que acompanhava o ritmo da ‘cavalgada’ das pernas. Mas que diabo era aquilo!!!

O filme entretanto decorreu normalmente. Tão normalmente quanto se pode chamar de normal uma histórias de cavaleiros com cocos em vez de cavalos, monstros em forma de coelho, andorinhas de várias latitudes e last but not the least a prisão de toda a gente pela polícia pelo homícido de alguém que verdadeiramente nem entendi que fazia ali no filme. E com as sirenes da polícia a interromperem uma batalha campal crucial!... E depois o filme acaba. Assim sem mais. Parecia que a bobine tinha partido. Nem fim, nem the end, nem genérico. Nada. Niente. Ziltsch. A malta toda ficou a olhar para o projectista, que entretando já tinha acendido as luzes do teatro para que não houvessem dúvidas que o filme tinha acabado. Ele limitou-se a encolher os ombros e a rir. Bem, parecia que tínhamos sido vítimas de alguém com um sentido de humor algo bizarro... E logo a meio da batalha! Onde é que agora ia ver o resto do filme!?

Toda a gente saiu comentado: “Que banhada, meu. F***-se!!!” “Podes crer!” “E a cena dos cocos!?” “Hiiii, meu nem me fales!”. E assim se passaram umas horas. E uns dias. E umas semanas. E não parámos de comentar o filme nos seus múltiplos ângulos, nas suas múltiplas formas, cenas, gags, eu sei lá! Ele era a cena do cavaleiro negro, ele era a cena do coelho monstro, ele era a cena das andorinhas do abismo (e das resposta erradas). Todo o filme foi dissecado nas semanas que se seguiram à sua exibição e aquilo que inicialmente tinha sido entendido como uma ‘banhada’ começava a transformar-se em algo estranhamente diferente. Afinal aquilo era humor!? Era assim o humor inglês? Ná. Não podia ser. Aquilo era diferente. Muito diferente. Que impacto! E logo aos 10 anos...

Tínhamos acabado de ver apenas um filme dos Monthy Python. Essa obra-prima do humor que dá pelo nome de “O Cálice Sagrado”.
Depois a história continuou. Lá vieram “A Vida de Brian”, “O Sentido da Vida” e a suprema série de TV “Monthy Python Flying Circus” (a ordem é minha).
E a minha forma de olhar e interpretar o que se passava à minha volta, passou a ser diferente. Um pouco mais... humorada?

Thursday, June 28, 2007

A Saga dos Aznar (parte 1)


Há muito muito tempo, era eu uma criança havia um jornal chamado “O Século”.
Esse jornal tinha um suplemento infantil muito popular de nome “Pim Pam Pum”. Não me lembro em que dia da semana saía o dito suplemento, recordo apenas que o meu avô o guardava para eu ‘ler’ quando lá ia a casa. Vinha no meio do jornal e era necessário depois de dobrar as páginas correctamente, cortá-las com uma faca, tarefa feita com cuidado pelo avô perante o olhar por vezes atento do neto. As páginas do “Pim Pam Pum” eram em papel do mesmo tipo das do jornal. A impressão por isso mesmo não tinha lá muita qualidade, conseguindo-se mesmo assim algum colorido com azul e vermelho! Pois. Mas o que era isso para um puto desejoso de ver os 'quadradinhos'? Lá estavam os passatempos próprios para as crianças, as histórias aos quadradinhos (ou quadrinhos, como soar melhor) e alguma leitura para aqueles mais velhos que já sabiam ler.

Anos mais tarde, quando andei a fazer umas arrumações encontrei alguns exemplares desse suplemento que tinham escapado miraculosamente ao destino do homem do lixo. Ao folhear as páginas encontrei uma pérola que até aquela data desconhecia existir. E deixou-me curioso. Tratava-se de uma história aos quadradinhos sobre um personagem com um nome espanhol, “Angel Aznar”, e que era passada num qualquer futuro distante. Tinha descoberto uma história de ficção científica perdida num envelope cuidadosamente protegido do exterior qual cápsula do tempo! A princípio não consegui descobrir grande coisa sobre as suas origens. Era hábito antigamente não se colocar o nome dos autores das histórias, pois estas eram vendidas por sindicância (do inglês syndicate) contendo apenas o ‘copyright’ que era usualmente da desaparecida e ubíqua, Agência Portuguesa de Revistas. Esta história não era excepção.

(à suivre)

Wednesday, June 27, 2007

Os Jactos Gritantes


Num dos programas domingueiros do Julinho apareceu um dia um ‘extraterrestre’ de nome Johnny Warman. Como é hábito neste tipo de shows televisivos o convidado ri muito, diz meia-dúzia de balelas sobre o álbum entretanto editado – caso seja essa a sua especialidade. Se for cozinheiro deixa umas dicas à dona-lá-de-casa sobre a melhor forma de confeccionar “bacalhau com todos” – e faz uns comentários simpáticos acerca da boa disposição e modo de receber dos habitantes deste canto da Europa.

Este Johnny não deve ter sido excepção. A verdade é que a memória pré-preformance já lá vai. Porque de facto o que chamou à atenção foi a canção, cantada em playback, que foi ouvida nesse Domingo. “Screaming Jets”. Foi tal o impacto que essa música teve no meu ouvido que fui a correr comprar o LP (forma de falar porque de facto quem o comprou foi a mãe).

Alguém se lembra dele? Pouco provável pelo menos a julgar pelos vários inquéritos entre amigos e conhecidos que tenho feito nos últimos anos. Com o advento da era do CD fiquei frustado. Com a quantidade de LPs que foram ‘passados’ a CD nesses anos a seguir ao seu surgimento, nunca se lembraram deste álbum. Tanto assim foi que na altura como eu tinha uma gravação com alguma qualidade desse LP numa cassete TDK de Crómio, pedi a um colega de trabalho para converter-la para CD usando um programa que ele tinha sacado na então nascente internet (o qual tinha conseguido crackar – isto de procurar códigos e formas de dar a volta ao sistema não é só de agora).
Assim fiquei eu contente durante estes anos todos com uma cópia mais ou menos de qualidade do LP.

Eis senão quando recentemente numa busca pela net descobri já estar à venda (e há já algum tempo) o famigerado CD original que inclui inclusivé faixas extra! A etiqueta é a Angel Air.

Posso assim encomendá-lo calmamente pela net na amazon para poder ouvir em todo o seu esplendor novamente esse “Screaming Jets” na voz de Johnny com coro de, nem mais nem menos, Peter Gabriel!

Um clássico e uma gema de grande quilate este “Walking Into Mirrors” de Johnny Warman.

Tuesday, June 26, 2007

A Balada de Cabelo Ruivo

O meu primeiro contacto com Auclair foi nas páginas do Tintim. Ainda nem sabia o que era aquilo da Banda Desenhada. As primeiras pranchas d’ “Os Peregrinos” ficaram na memória. Achei tudo aquilo diferente, a história era no presente e simultaneamente no passado e no futuro. Só muito depois soube o que queriam dizer termos como ‘ficção científica’ ou ‘futuro apocalíptico’. Lembro vagamente ter folheado as páginas e achar logo ali que a história tinha um traço diferente das outras, mais para gente crescida (eram duas páginas, como era usual na revista, com continuação para a revista seguinte).
Mais tarde – algum tempo mais tarde – consegui convencer a minha mãe a comprar alguns livros da agora extinta colecção de banda desenhada da Bertrand. Aí tomei conhecimento com o início da saga: o “Clã dos Centauros”. E aí fiquei ainda mais perplexo, pois achei que a série tinha regredido no tempo completamente, quando afinal ‘aquilo’ era passado num futuro pós-apocalíptico em que os governos, os estados, a humanidade no geral tinha quase voltado ao paleolítico, isto no primeiro volume da série pois os seguintes iriam mostrar a fibra de que era feito Auclair. Que fenomenal!
Anos depois (muitos), descobri que havia ‘o início’, um episódio-piloto que dera origem a esta fabulosa saga de “Simon du Fleuve” (já repararam como ‘Simão do rio’ não sou nada bem). E porque raio não existia esse bendito album? Parece que um problema de direitos de autor torpedeou a sua publicação. Pois é. Devido a uma insistência de plágio de uns herdeiros dos direitos de uma obra ("Le chant du Monde", de Giono), o nosso amigo Simão ficou orfão das origens durante décadas. Até que se publica em livro, primeiro em edição clandestina, e mais recentemente incluída numa biografia de Auclair (e simultaneamente uma homenagem): “La Dame Noir”.
Essa história inédita original chama-se “La Ballade de Cheveu Rouge”.
Claude Auclair faleceu em Janeiro de 1990. Acabaram-se as baladas, as mensagens ecológicas, os futuro pós-apocalipse. Extingui-se o bardo que cantava como ninguém a opressão das gentes.
Se houve leitura que marcou a minha adolescência foi sem dúvida a sua ‘Chronique des temps à venir...’

Monday, June 25, 2007

Passeio por Reguengos e arredores


Dia 1 – Chegada a Reguengos já quase à meia-noite. O hotel fica mesmo antes da rotunda, “se passar a rotunda é porque se enganou”, bem disse a simpática Sandra ao telefone. Afinal o Googlemaps serviu para alguma coisa. A entrada do hotel fica ali mesmo antes da rotunda do lado esquerdo. Não há que enganar.

O hotel tem boa aparência logo no primeiro olhar. Faz lembrar um Monte dos contos alentejanos de Namora. Passa-se a porta grande e entramos numa espécie de cruzamento entre uma mansão almorávida e romana. Lá dentro a decoração é típica sem cair no rídiculo. As várias zonas de estar e os tectos abobadados do piso térreo em tijolo dão um ar acolhedor ao viajante. O “Môet et Chandon” espera-nos no quarto (tratamento VIP como dizia a promoção, que isto de “champagne” não é qualquer um!)

Dia 2 – O pequeno-almoço é o normal para um hotel de quatro estrelas. Não falta nada. Excepto tranquilidade matinal (“é meu,ó mãe! é meu, meu, meu!” “Então Maria, não grite!” “É meeeeu!”).

Já ia na degustação dum pão-de-leite com queijo, fiambre e paio quando a empregada atenciosamente diz se quisermos também podem fazer umas torradas ou ovos mexidos... Hummm! Elas que venham então. As torradas e os ovos mexidos!



Seguimos então caminho até à herdade do Esporão (tratamento VIP, lembram-se?) para uma visita guiada ao processo que dá origem ao vinho e às caves do famoso nectar. Vale a pena. A temperatura cá fora já ronda os 35º mas a 30 metros abaixo do solo estão apenas 16º. Temperatura natural. Após a visita vem a prova de um vinho pouco usual: rosé. Entretanto a vista do alpendre da casa onde estamos, que inclui o restaurante, bar e loja é soberba. Ao fundo vê-se água, “não é do Alqueva é mesmo uma barragem da propriedade”, o que torna a paisagem bastante tranquila e refrescante. Mais uma vez a sensação de estar numa villa romana é grande (inclusivé tem um claustro que está num piso inferior, onde fica o restaurante). Ao fundo depois do lago, um monte alentejano. Será de quem? “pertence ao Dr. Roquette” responde com um misto de deferência a nossa guia. Também quero um.

O almoço vai ser em Reguengos. Onde comer então? Como não fizémos o trabalho de casa não temos qualquer referência. Vamos ao acaso. Na praça principal há dois restaurantes. Assim de repente não gostamos do primeiro que vimos, ademais está com pouca gente o que é sempre um índice de referência nestas coisas. Vamos ao seguinte. Este já nos parece com melhor aspecto. E está cheio. “Migas de espargos”. Estava bom para o preço e o serviço até foi simpático.

A caminho de Monsaraz. O calor aperta e no carro o ar-condicionado é uma coisa que vem mesmo a jeito nestas alturas. Seguimos pela estrada errada pois queríamos passar em S. Pedro do Corval antes de seguir até à vila altaneira. Segundo a marcação feita pelo hotel temos direito a uma visita guiada a uma das olarias que fazem desta localidade alentejana o “centro da olaria de Portugal” (cartaz à entrada da aldeia dixit). Lá chegando, depois de uma volta pelo bilhar grande, ficamos bastante desapontados com o cenário. Além do calor ser muito, a louça em exposição debaixo de um telheiro de lusalite só o agrava. Após chegar à fala com o (aparente) responsável pelo sítio, decidimos deixá-lo entretido com o grupo de compradores que já lá estavam e cujo interesse em negociar as peças desejadas, fazia pensar numa cena qualquer nas medinas de Marrocos. Ála para Monsaraz!



A aldeia é bela. Muito bela. O branco das casas e o empedrado das ruas, a planície em volta, as muralhas. Por acaso parece que tivémos sorte pois os turistas são em pouco número (obviamente nós excluídos!, turistas são os outros, aqueles que vêm de auto-pullman). Desde a última vez uma coisa mudou na paisagem: a água no horizonte da albufeira nova. À saída em vão procurámos o menir. Raio do menir que não aparece. Será que foi engolido pelas águas d’Alqueva?



De volta ao hotel, vamos relaxar na piscina. Enfim, no tanque grande onde estão uns miúdos a saltar e chapinhar com uma bola. Por acaso o cenário é relaxante. Repito-o, faz lembrar uma villa romana. Ao fim de alguns olhares de poucos amigos lá conseguimos que a mamã diga ao João para virem brincar mais para junto dela. O João, a Joana e o macaco simão lá se deslocam sem grande convicção para o lado esquerdo da piscina. Hummm, até que sabe bem a água fria no corpo quente. Já só faltam aparecer mesmo a Maria, o José e o menino Jesus...

Onde jantar? Repete-se a cena do almoço. Já agora convinha encontrar outro sítio para não repetir a dose. Lá nos indicam mais duas casas de pasto alternativas, além daquela que já tinhamos descoberto. Escolhemos uma delas depois de passar pela outra (é usado o mesmo índice de referência anterior na escolha). Sendo especialista em grelhados optamos por pedir “secretos de porco” e até que foi uma boa escolha. O preço e o serviço também são simpáticos.

Dia 3 – Chegou a hora de regresso a casa. Não sem antes parar em Évora essa cidade património mundial. A meia hora de Reguengos chegamos lá perto do meio-dia. Tempo suficiente para passear antes do almoço e voltar a rever as ruas, praças e arcadas, e claro o Templo Romano em tempos dito erradamente de “Diana” (já não sei quem mas foi um Eborense que desmontou os argumentos que lhe davam essa atribuição, fazendo vingar o nome mais correcto de “Romano” apenas).



Algures entre a praça do Giraldo e a Sé, paramos numa loja com uns azulejos pintados à mão. Antes de sair pergunto à simpática senhora onde se pode comer bem sem ser para turista ver. Automaticamente vem à calha o Fialho e outro que me é novo: Luar de Janeiro. Não vale a pena elaborar sobre as preferências da anfitriã, mas acabo por escolher o segundo porque o primeiro já conheço.



E que surpresa é esse Luar! Ao mesmo nível do outro (tanto em preço como em qualidade), somos no entanto muito bem recebidos pelo Sr. Prates que faz toda a diferença. E na boca fica esse Torrão Real. Que delícia! E vivam os doces alentejanos!


E hoje já é segunda-feira...

Friday, June 15, 2007

Hello World

...and the Celestial Spheres turn and turn and turn.

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