Dia 1 – Chegada a Reguengos já quase à meia-noite. O hotel fica mesmo antes da rotunda, “se passar a rotunda é porque se enganou”, bem disse a simpática Sandra ao telefone. Afinal o Googlemaps serviu para alguma coisa. A entrada do hotel fica ali mesmo antes da rotunda do lado esquerdo. Não há que enganar.
O hotel tem boa aparência logo no primeiro olhar. Faz lembrar um Monte dos contos alentejanos de Namora. Passa-se a porta grande e entramos numa espécie de cruzamento entre uma mansão almorávida e romana. Lá dentro a decoração é típica sem cair no rídiculo. As várias zonas de estar e os tectos abobadados do piso térreo em tijolo dão um ar acolhedor ao viajante. O “Môet et Chandon” espera-nos no quarto (tratamento VIP como dizia a promoção, que isto de “champagne” não é qualquer um!)
Dia 2 – O pequeno-almoço é o normal para um hotel de quatro estrelas. Não falta nada. Excepto tranquilidade matinal (“é meu,ó mãe! é meu, meu, meu!” “Então Maria, não grite!” “É meeeeu!”).
Já ia na degustação dum pão-de-leite com queijo, fiambre e paio quando a empregada atenciosamente diz se quisermos também podem fazer umas torradas ou ovos mexidos... Hummm! Elas que venham então. As torradas e os ovos mexidos!

Seguimos então caminho até à herdade do Esporão (tratamento VIP, lembram-se?) para uma visita guiada ao processo que dá origem ao vinho e às caves do famoso nectar. Vale a pena. A temperatura cá fora já ronda os 35º mas a 30 metros abaixo do solo estão apenas 16º. Temperatura natural. Após a visita vem a prova de um vinho pouco usual: rosé. Entretanto a vista do alpendre da casa onde estamos, que inclui o restaurante, bar e loja é soberba. Ao fundo vê-se água, “não é do Alqueva é mesmo uma barragem da propriedade”, o que torna a paisagem bastante tranquila e refrescante. Mais uma vez a sensação de estar numa villa romana é grande (inclusivé tem um claustro que está num piso inferior, onde fica o restaurante). Ao fundo depois do lago, um monte alentejano. Será de quem? “pertence ao Dr. Roquette” responde com um misto de deferência a nossa guia. Também quero um.
O almoço vai ser em Reguengos. Onde comer então? Como não fizémos o trabalho de casa não temos qualquer referência. Vamos ao acaso. Na praça principal há dois restaurantes. Assim de repente não gostamos do primeiro que vimos, ademais está com pouca gente o que é sempre um índice de referência nestas coisas. Vamos ao seguinte. Este já nos parece com melhor aspecto. E está cheio. “Migas de espargos”. Estava bom para o preço e o serviço até foi simpático.
A caminho de Monsaraz. O calor aperta e no carro o ar-condicionado é uma coisa que vem mesmo a jeito nestas alturas. Seguimos pela estrada errada pois queríamos passar em S. Pedro do Corval antes de seguir até à vila altaneira. Segundo a marcação feita pelo hotel temos direito a uma visita guiada a uma das olarias que fazem desta localidade alentejana o “centro da olaria de Portugal” (cartaz à entrada da aldeia dixit). Lá chegando, depois de uma volta pelo bilhar grande, ficamos bastante desapontados com o cenário. Além do calor ser muito, a louça em exposição debaixo de um telheiro de lusalite só o agrava. Após chegar à fala com o (aparente) responsável pelo sítio, decidimos deixá-lo entretido com o grupo de compradores que já lá estavam e cujo interesse em negociar as peças desejadas, fazia pensar numa cena qualquer nas medinas de Marrocos. Ála para Monsaraz!

A aldeia é bela. Muito bela. O branco das casas e o empedrado das ruas, a planície em volta, as muralhas. Por acaso parece que tivémos sorte pois os turistas são em pouco número (obviamente nós excluídos!, turistas são os outros, aqueles que vêm de auto-pullman). Desde a última vez uma coisa mudou na paisagem: a água no horizonte da albufeira nova. À saída em vão procurámos o menir. Raio do menir que não aparece. Será que foi engolido pelas águas d’Alqueva?

De volta ao hotel, vamos relaxar na piscina. Enfim, no tanque grande onde estão uns miúdos a saltar e chapinhar com uma bola. Por acaso o cenário é relaxante. Repito-o, faz lembrar uma villa romana. Ao fim de alguns olhares de poucos amigos lá conseguimos que a mamã diga ao João para virem brincar mais para junto dela. O João, a Joana e o macaco simão lá se deslocam sem grande convicção para o lado esquerdo da piscina. Hummm, até que sabe bem a água fria no corpo quente. Já só faltam aparecer mesmo a Maria, o José e o menino Jesus...
Onde jantar? Repete-se a cena do almoço. Já agora convinha encontrar outro sítio para não repetir a dose. Lá nos indicam mais duas casas de pasto alternativas, além daquela que já tinhamos descoberto. Escolhemos uma delas depois de passar pela outra (é usado o mesmo índice de referência anterior na escolha). Sendo especialista em grelhados optamos por pedir “secretos de porco” e até que foi uma boa escolha. O preço e o serviço também são simpáticos.
Dia 3 – Chegou a hora de regresso a casa. Não sem antes parar em Évora essa cidade património mundial. A meia hora de Reguengos chegamos lá perto do meio-dia. Tempo suficiente para passear antes do almoço e voltar a rever as ruas, praças e arcadas, e claro o Templo Romano em tempos dito erradamente de “Diana” (já não sei quem mas foi um Eborense que desmontou os argumentos que lhe davam essa atribuição, fazendo vingar o nome mais correcto de “Romano” apenas).

Algures entre a praça do Giraldo e a Sé, paramos numa loja com uns azulejos pintados à mão. Antes de sair pergunto à simpática senhora onde se pode comer bem sem ser para turista ver. Automaticamente vem à calha o Fialho e outro que me é novo: Luar de Janeiro. Não vale a pena elaborar sobre as preferências da anfitriã, mas acabo por escolher o segundo porque o primeiro já conheço.

E que surpresa é esse Luar! Ao mesmo nível do outro (tanto em preço como em qualidade), somos no entanto muito bem recebidos pelo Sr. Prates que faz toda a diferença. E na boca fica esse Torrão Real. Que delícia! E vivam os doces alentejanos!
E hoje já é segunda-feira...