Monday, August 27, 2007

Duplo Mike


No sábado fui ver o Quentin Tarantino's Thunder Bolt ou "Death Proof". O primeiro título aparece por breves instantes no início do filme.
Tenho por hábito seguir os passos de determinado realizador quando gosto do trabalho dele independentemente do que a crítica possa dizer sobre os seus filmes. Tarantino é um deles. Desde que descobri "Pulp Fiction" (fui depois a correr ver "Revervoir Dogs") que gosto do tipo de filmes que faz. Há que estabelecer aqui uma pequenina diferença entre os filmes que dirige e aqueles que apenas produz. Nesta última categoria já não é assim tão claro que goste de tudo pois às vezes a sopa é mesmo de mau gosto.
Este "À Prova de Morte" é uma gema! É um autêntico filme de automóveis, daqueles com motores de 400 e mais cavalos com uma sonoridade peculiar, montados por autênticos cavaleiros (ou cavaleiras) do asfalto. Um must. E depois tem a música. Como é bom ouvir a música que passa pelos filmes do Tarantino (trivia: a jukebox do filme com todas as músicas é mesmo do realizador e foi transportada para o local de filmagens em embalagem própria especial!).
Já aqui mencionei Kurt Russel na personagem de Snake Plissken. Neste filme a personagem de Stuntman Mike é diferente dos papéis a que deu corpo com John Carpenter ou mesmo recentemente, mas é no entanto umas das suas melhores interpretações, com o pormenor da cicatriz que apresenta sobre o olho ser do mesmo lado da de Plissken ...
Este filme é sobre duplos com duplos fazendo o papel de duplos. Grande Zoe! Tens mesmo 7 vidas.

Thursday, August 9, 2007

Florence & Roberto


Soube hoje uma coisa extraordinária ao almoço. Quando normalmente duas pessoas de nacionalidades diferentes se juntam, o diálogo entre elas acaba por ser numa das línguas maternas comuns. As mais das vezes ambos falam a língua do outro. Alguns casos haverá que a comunicação é feita através de uma língua franca comum a ambos, normalmente o inglês ou francês.
Mas hoje soube que um amigo espanhol que vive junto com uma moça belga, por sinal muito simpática e bonita, comunicam em ...português!!! Ou-lá-lá mais ça c'est vraiment chouette non? Hombre! qué sí, pero yo no hablo francés, ¿verdad?
Acho o máximo.
Entretanto as férias foram-se. Agora só para o ano. Temos pena!, como diria o Resende, né Roberto?
(Nota: hablo é com H. Isto de escrever portuñol tem destes riscos ;)

Monday, July 23, 2007

Férias!


Finalmente! Férias!

Até já!

Wednesday, July 18, 2007

Alienígena


Eu vi coisas que vocês nem imaginam...
Vi naves de ataque em chamas no ombro de Orion.
Vi raios-C brilhando no escuro junto ao portal de Tahnhauser.
Todos esses momentos perder-se-ão no tempo, como lágrimas na chuva...
É tempo de morrer.

(in Blade Runner, o filme, 1982)

Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Essas são as questões que Roy Baty (Rutger Hauer) coloca a si mesmo no fim do seu tempo de vida programada no filme Blade Runner.
Afinal são questões que nos acompanharam desde sempre. Pelo menos desde que tomámos consciência do ‘nós’ e começámos a desenhar nas paredes de Altamira e Lascaux, essas dúvidas e pensamentos.
No filme Contacto baseado na obra homónima de Carl Sagan, há um diálogo muito belo entre o pai e a jovem Ellie. Ela pergunta-lhe se existirão outras civilizações algures no cosmos. Ao que o pai responde: “se não houver Ellie, é um enorme desperdício de espaço!”
Haverá? Até à presente data e exceptuando toda a parafernália à volta de Roswell e afins, pode-se dizer que não existe nenhuma prova concreta de existência de vida inteligente no cosmos fora desta esfera azul, nos limites da Estrada de Santiago. E é pena. Quero acreditar que de facto não se trata de um incrível desperdício de espaço, mas antes sublinhar o ainda não foi encontrada vida inteligente no resto do cos
mos.
Existe uma famosa fómula dita de Green Bank (ou Drake) criada em 1961, que teoriza sobre essa plausabilidade. É aliás tema de um dos episódios de Cosmos de Carl Sagan, bem como de um livro de BD chamado “Bela mas perigosa” que depois teve parte da estória adaptada no filme Heavy Metal. Segundo essa fórmula, N é o número de civilizações na galáxia capazes de comunicação interestelar. A razão de ser uma 'civilização com comunicação interestelar' e não apenas uma 'civilização', prende-se com a ideia de considerar apenas civilizações avançadas o suficiente para dispor de meios ao seu alcance para comunicar com outras civilizações em outros lugares, em outras estrelas. O resultado de N nessa fórmula depende do facto de sermos optimistas ou pessimistas.
Em último caso, saber se estamos sós neste Universo é o resultado da escolha de cada um. Da nossa busca. Ou seja, é uma questão de fé! Claro que para isso não era necessária nenhuma equação...

Thursday, July 12, 2007

Os Frades Trinos da Redenção dos Cativos


Consta da história de Lisboa a existência dede 1294 destes frades assim designados pela sua vocação em resgatar prisioneiros aos mouros. O local onde tinham morada era um dos maiores e mais importantes conventos da cidade – o da Santíssima Trindade.

Corre o tempo. Aquele dominado por Chronos não o outro da alçada do Anthímio de Azevedo, e em 1836 é fundada no local do antigo convento, por um Galego, uma fábrica de cerveja. Adjacente à fábrica e aproveitando o refeitório dos frades, nasce a Cervejaria da Trindade. A mais antiga existente em Portugal.

Esta cervejaria tem para mim duas razões para uma visita obrigatória: as salas de comezaina, e o serviço. É verdade, apesar de actualmente ser pertença de um grupo económico que inclui também a Cervejaria Portugália, consegue manter-se aparte no que toca ao nível de serviço (e não só, pois o famoso bife também é aqui de melhor palato) da sua prima, entretanto multiplicada a bem da Nação (e do povo).

No que às salas diz respeito é de visita obrigatória, para quem por aquelas paragens andar e ainda nunca lá tenha parado, a sala principal e a esplanada. Os azulejos que se encontram dispostos nas paredes da sala principal merecem um olhar atento do viajante ocasional e do conviva em particular. E o recanto ao ar livre tem para mim um significado especial pois da primeira vez que fui à Trindade com os meus pais, ficámos sentados cá fora nessa espécie de esplanada que em noites de Verão sabe tão bem. O curioso da estória é que eu durante muito tempo não sabia onde era o local onde tinha estado, apenas me lembrava de ter sido ao ar livre e de haver plantas nas paredes (possivelmente trepadeiras). Foi só muito mais tarde quando lá voltei em jovem tináger que me apercebi ser aquele o local onde tinha comido marisco em tempos imemoriais (pois, a memória tem destas coisas).

Serve isto para dizer que voltei lá ontem. Desta feita acompanhado por alguém especial que nunca lá tinha entrado. Nem para beber uma bijeca. Foi pois uma agradável supresa vermos que além do sítio em si valer a pena, o serviço e a comida estarem uns bons pontos acima das já referidas primas. E deixem-me dizer-vos: as gambas ao alhinho estavam divinais! E pensar que quase estivémos para ir a outro porto de abrigo nessa noite. É que ainda por cima a sala grande estava toda reservada para um evento qualquer (apenas um aparte gatronómico: entre os convidados que entretanto iam entrando, vimos entrar o 'nosso' amigo Sérgio. Aquele da Etelvina. É que foi a segunda vez que nos cruzámos na mesma casa de pasto, a última das quais foi na Brasserie de L'entrecôte. Será que ele é accionista do grupo? Ou faz o controlo de qualidade? Vamos lá a pôr os pontos nos iis!). Ainda bem que fizémos o desvio na Rua da Misericórdia e em vez de voltar à esquerda fomos ... para a direita. Mas nada de más conotações. Até porque este fim-de-semana nem cá vamos estar...

Vão, e não venham de lá se não disserem “comi que nem um frade trininho”. Ali para os lados Da Trindade.

(Nota: na altura em que fiz este texto estava convencido que a Trindade e a Portugália pertenciam ao mesmo grupo, o que não era verdade. Afinal fiz um pouco de futurologia pois à uma semana atrás veio a público a noticia de que o grupo que controla a Portugália adquiriu a Trindade - que já antes lhes pertencera).

Tuesday, July 10, 2007

Сталкер

É. Foi. Será. Um dos filmes que mais gostei de ver. "Stalker". Um dia em Londres em Picadilly Circus havia uma loja de música e video muito conhecida. Havia. Agora foi 'normalizada' e chama-se salvo erro Virgem qualquer coisa. Nessa dita loja, havia uma ala dedicada às bandas sonoras - sim, ala porque eram filas de CDs de música de filmes de todo o género. Aqui na santa terrinha apenas uma prateleira e já é pedir muito, pois a maioria das lojas só têm mesmo uma fileira nessa hipotética prateleira. O olhar perde-se pelos filmes cujas bandas sonoras estão ali representadas. A capa de um CD chama a atenção. Eu já a tinha visto antes. Era aliás igual. Mas a caixa não. Esta era de um CD duplo, a banda sonora original (OST) de "Apocalypse Now", que inclui diálogos do filme entrecortados pela música. Importado dos States! (dizia num autocolante). Com este achado no 'cesto de compras' continuei as buscas e dei de caras com um CD que nem queria acreditar existir: " Solaris, The Mirror, Stalker Films by Andrei Tarkovsky Music composed by Edward Artemyev". Quem!?

UAU! A música dos filmes de Tarkovsky! Nem queria acreditar. Estava verdadeiramente na gruta de Aladino. Mas quem era esse compositor?
De todos os filmes que vi de Andrei Tarkovsky (só "O Espelho" ainda está em espera) o que mais me agradou, talvez por ser um cenário algo semelhante com o mundo de "Simon du Fleuve" (ver post anterior "A Balada de Cabelo Ruivo"), foi "Stalker". Durante anos não me esqueci da cena inicial do filme que vi no saudoso ciclo de Ficção-ciêntífica da Gulbenkian. Aquele trepidar do comboio, o copo, a rapariga. Tudo aquilo tem um ar misterioso. Aliás como toda a paisagem desolada do filme. E aquela música!
Como o filme era russo nunca pensei conseguir encontrar a banda sonora dele. Que editora estaria interessada nisso? Pois é. Mas havia quem estivesse. "Torso Kino", uma editora alemã editou. E a música do CD não era só desse filme como de todos os de Tarkovsky que verifiquei eu, tinham o mesmo compositor: Edward Artemiev.


Bem vindos à Zona. Mas tenham cuidado, pois na Zona todos os desejos se tornam realidade...

(NOTA: para os incautos que queiram comprar o DVD do filme Stalker, verifiquem se a edição da Ruscico tem o som Doby 2.0 também, pois a remistura em 5.1 fez desaparecer todo o fulgor dessa cena inicial).

Thursday, July 5, 2007

Top of the Rock



Na nossa primeira viagem a Nova Iorque (NY) um dos pontos que marcou a visita foi a subida ao cimo do Rockefeller Center (o Empire State Building foi um bocado desilusão, mas são opiniões). Não é à toa que lhe chamam o “Topo do Rochedo”. É de facto deslumbrante a vista que se tem lá de cima do terraço cimeiro do edifício. Além de alta (hello!?) é totalmente abrangente, i.e. 360º em redor. Estando nós no meio do terraço conseguimos apenas com um movimento circular do tronco e cabeça vislumbrar a milhas de distância. E também observar a cidade ali ao lado como se estivéssemos em vôo, qual Ícaro dos tempos modernos. É de facto de cortar a respiração.

Um dos pormenores curiosos que se vêm do cimo são os inúmeros cilindros em madeira com cobertura cónica que pululam no topo dos prédios de NY. Quem gosta de ver os episódios da série de televisão CSI-NY sabe do que se trata. De facto para um forasteiro, e ademais europeu, aquilo deixa-nos um bocado na dúvida sobre a sua verdadeira utilidade, apesar da óbvia função a que se destinam: depósitos de água. Afinal em Lisboa, ou Londres, ou Paris, ou qualquer outra cidade europeia eles não existem.

Mas voltemos às vistas. Em Paris dizem que a melhor vista da Torre Eiffel é do topo da Tour Montparnasse. Talvez seja verdade, não sei. O que posso dizer é que a melhor vista do Empire State Building é mesmo do alto do ‘Top of the Rock. Ainda por cima o Empire sobressai por não ter nenhum edifício à volta que lhe faça sombra, e visto ‘em pé de igualdade’ brilha muito mais assim.

Este terraço foi aberto ao público recentemente (2005) depois de estar fechado para obras desde 1986. O nome que lhe deram é apropriado pela semelhança com o convés de um paquete: observation deck. Por isso não se esqueçam, quando forem à ‘cidade que não dorme’ esquecem lá o edifício mais alto da cidade. Entrem mesmo é no arranha-céus de Rockefeller Plaza e ‘up up and away’ até ao topo para ter a vista que realmente conta no observation deck ou ‘Top of the Rock’.

Tuesday, July 3, 2007

João Carpinteiro

Já não sei quando começou o meu interesse pelo cinema. Talvez tenha sido nessas sessões de quarta-feira à tarde onde víamos todo o tipo de filmes e sobretudo, com uma frequência certa. Pois, porque já nem actualmente consigo ver um filme por mês no cinema quanto mais todas as semanas!
Foi em 1977 que estreou o filme que viria a despertar a imaginção de várias gerações de jovens (e não só). “A Guerra das Estrelas”. Foi um impacto grande. Pôs-nos todos a falar de robôs, de naves espaciais, espadas laser, planetas distantes, galáxias distantes...
Deve ter sido por isso que o cinema dito de ficção-científica passou a fazer parte do meu universo de preferências fílmicas. Acho mesmo que de forma dominante.
A partir dessa altura quase tudo o tinha a ver com viagens espaciais e quejandos, passou a estar na mira do meu radar. E não foram só filmes claro. Os livros também tiveram a sua quota parte. Mas voltando às sessões de cinema.

Nessa altura vi um filme que mostrava como seria Nova Iorque em 1997, “Escape from New York” no original (“Nova Iorque 1997” em português). O seu realizador: John Carpenter. A partir daí fiquei fã do ‘rapaz’. Uma das coisas que sobressai neste filme é a banda sonora. E aqui meus amigos, surpresa das surpresas o próprio Carpenter é um dos autores da música.
E não só da música deste filme como da maioria dos seus filmes,
sendo por exemplo marcante em “Halloween” e “Assalto à 13ª Esquadra”. Voltando a Nova Iorque, o filme tem um personagem de culto, Snake Plissken interpretado por Kurt Russel: "The name's Plissken", responde ele ao polícia que o interroga quando este o trata por ‘snake’. Já no fim a frase inverte-se ao responder que o nome é Snake, consequência se calhar da sua ida e regresso aos infernos, ganhando a liberdade e colocando-se moralmente acima de qualquer um daqueles que o rodeiam naquele momento.

Praticamente vi todos os seus filmes, apesar que nem todos serem uniformes qualitativamente, o seu estilo é inconfundível. Algures nesse tempo vi também outro filme estranho, no sentido em que não se parecia nada com os que até então tinha visto. Eu devo ter sido aliás um dos poucos que nos anos 80 não viu esse famoso filme de extraterrestres de nome “E.T.”. Na realidade vi outro ‘ET’ que por essa altura também teve a sua estreia em sala com o título português de “Veio de Outro Mundo”, no original “The Thing”. Isto era algo de diferente. Mistura de terror com ficção-científica, deixava-nos encostados à cadeira com suores frios pelas costas.

Entretanto fui vendo quando podia os outros filmes dele. Uns gostava mais, outros menos. Mas uma coisa é certa: o Carpinteiro tem conseguido manter uma carreira coerente ao longo destes anos. Com uma certa uniformidade nos temas dos filmes que faz e na espectativa que eles sempre trazem. Ele é um daqueles realizadores que me fazem levantar o rabo do sofá e ir ao cinema vê-lo. Mesmo quando ‘os críticos’ não lhe abonem muito a favor. É assim. Eu prefiro ver e julgar por mim próprio, quando gosto do estilo ou da obra de determinado realizador. E John Carpenter faz parte desse grupo.

Apenas um última nota. Ainda não vi do princípio ao fim o “Halloween”... mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa...

Friday, June 29, 2007

Os Cocos

Coco | s. m. | adj.

s. m., Bot.,

fruto do coqueiro;


Para um rapaz de dez ou onze anos, ir ao cinema significa normalmente ir ver algo que o vai divertir durante umas horas. Usualmente serão filmes de animação ou comédias, alguns filmes de acção sem excessos, e filmes fantásticos (A Guerra das Estrelas p.e.).

Numa bela quarta-feira à tarde nos idos de setenta, vi um filme que veio marcar a minha forma de ver e sentir o humor. O título parecia ser interessante e as imagens nos cartazes eram apelativas: tratava-se de uma história passada na idade média com cavaleiros de armadura e espada, castelos, donzelas e batalhas e isso tudo. Embora naquela altura às quartas-feiras houvesse sempre sessão de cinema no velho teatro D.Luís Filipe, nem sempre os títulos eram grande espingarda. Às vezes acontecia, o que a malta costumava dizer, uma ‘banhada’! Um dos que me vem à memória foi “Mon oncle d’Amérique”. Manifestamente ou não tinha idade para o ver na altura que vi, ou a nouvelle vague francesa não faz o meu género.

De regresso aos nossos cavaleiros. As imagens iniciais do filme perdem-se já nas brumas da memória, mas há uma que fica para sempre: quando saídos detrás de uns arbustos na floresta a trote dos seus ‘cavalos’, vemos um grupo de cavaleiros vestidos a rigor mas... sem cavalos! Hélas, o som do trote era nem mais nem menos do que duas metades de um coco que eles faziam soar uma na outra num movimento de braços e mãos que acompanhava o ritmo da ‘cavalgada’ das pernas. Mas que diabo era aquilo!!!

O filme entretanto decorreu normalmente. Tão normalmente quanto se pode chamar de normal uma histórias de cavaleiros com cocos em vez de cavalos, monstros em forma de coelho, andorinhas de várias latitudes e last but not the least a prisão de toda a gente pela polícia pelo homícido de alguém que verdadeiramente nem entendi que fazia ali no filme. E com as sirenes da polícia a interromperem uma batalha campal crucial!... E depois o filme acaba. Assim sem mais. Parecia que a bobine tinha partido. Nem fim, nem the end, nem genérico. Nada. Niente. Ziltsch. A malta toda ficou a olhar para o projectista, que entretando já tinha acendido as luzes do teatro para que não houvessem dúvidas que o filme tinha acabado. Ele limitou-se a encolher os ombros e a rir. Bem, parecia que tínhamos sido vítimas de alguém com um sentido de humor algo bizarro... E logo a meio da batalha! Onde é que agora ia ver o resto do filme!?

Toda a gente saiu comentado: “Que banhada, meu. F***-se!!!” “Podes crer!” “E a cena dos cocos!?” “Hiiii, meu nem me fales!”. E assim se passaram umas horas. E uns dias. E umas semanas. E não parámos de comentar o filme nos seus múltiplos ângulos, nas suas múltiplas formas, cenas, gags, eu sei lá! Ele era a cena do cavaleiro negro, ele era a cena do coelho monstro, ele era a cena das andorinhas do abismo (e das resposta erradas). Todo o filme foi dissecado nas semanas que se seguiram à sua exibição e aquilo que inicialmente tinha sido entendido como uma ‘banhada’ começava a transformar-se em algo estranhamente diferente. Afinal aquilo era humor!? Era assim o humor inglês? Ná. Não podia ser. Aquilo era diferente. Muito diferente. Que impacto! E logo aos 10 anos...

Tínhamos acabado de ver apenas um filme dos Monthy Python. Essa obra-prima do humor que dá pelo nome de “O Cálice Sagrado”.
Depois a história continuou. Lá vieram “A Vida de Brian”, “O Sentido da Vida” e a suprema série de TV “Monthy Python Flying Circus” (a ordem é minha).
E a minha forma de olhar e interpretar o que se passava à minha volta, passou a ser diferente. Um pouco mais... humorada?

Thursday, June 28, 2007

A Saga dos Aznar (parte 1)


Há muito muito tempo, era eu uma criança havia um jornal chamado “O Século”.
Esse jornal tinha um suplemento infantil muito popular de nome “Pim Pam Pum”. Não me lembro em que dia da semana saía o dito suplemento, recordo apenas que o meu avô o guardava para eu ‘ler’ quando lá ia a casa. Vinha no meio do jornal e era necessário depois de dobrar as páginas correctamente, cortá-las com uma faca, tarefa feita com cuidado pelo avô perante o olhar por vezes atento do neto. As páginas do “Pim Pam Pum” eram em papel do mesmo tipo das do jornal. A impressão por isso mesmo não tinha lá muita qualidade, conseguindo-se mesmo assim algum colorido com azul e vermelho! Pois. Mas o que era isso para um puto desejoso de ver os 'quadradinhos'? Lá estavam os passatempos próprios para as crianças, as histórias aos quadradinhos (ou quadrinhos, como soar melhor) e alguma leitura para aqueles mais velhos que já sabiam ler.

Anos mais tarde, quando andei a fazer umas arrumações encontrei alguns exemplares desse suplemento que tinham escapado miraculosamente ao destino do homem do lixo. Ao folhear as páginas encontrei uma pérola que até aquela data desconhecia existir. E deixou-me curioso. Tratava-se de uma história aos quadradinhos sobre um personagem com um nome espanhol, “Angel Aznar”, e que era passada num qualquer futuro distante. Tinha descoberto uma história de ficção científica perdida num envelope cuidadosamente protegido do exterior qual cápsula do tempo! A princípio não consegui descobrir grande coisa sobre as suas origens. Era hábito antigamente não se colocar o nome dos autores das histórias, pois estas eram vendidas por sindicância (do inglês syndicate) contendo apenas o ‘copyright’ que era usualmente da desaparecida e ubíqua, Agência Portuguesa de Revistas. Esta história não era excepção.

(à suivre)

Wednesday, June 27, 2007

Os Jactos Gritantes


Num dos programas domingueiros do Julinho apareceu um dia um ‘extraterrestre’ de nome Johnny Warman. Como é hábito neste tipo de shows televisivos o convidado ri muito, diz meia-dúzia de balelas sobre o álbum entretanto editado – caso seja essa a sua especialidade. Se for cozinheiro deixa umas dicas à dona-lá-de-casa sobre a melhor forma de confeccionar “bacalhau com todos” – e faz uns comentários simpáticos acerca da boa disposição e modo de receber dos habitantes deste canto da Europa.

Este Johnny não deve ter sido excepção. A verdade é que a memória pré-preformance já lá vai. Porque de facto o que chamou à atenção foi a canção, cantada em playback, que foi ouvida nesse Domingo. “Screaming Jets”. Foi tal o impacto que essa música teve no meu ouvido que fui a correr comprar o LP (forma de falar porque de facto quem o comprou foi a mãe).

Alguém se lembra dele? Pouco provável pelo menos a julgar pelos vários inquéritos entre amigos e conhecidos que tenho feito nos últimos anos. Com o advento da era do CD fiquei frustado. Com a quantidade de LPs que foram ‘passados’ a CD nesses anos a seguir ao seu surgimento, nunca se lembraram deste álbum. Tanto assim foi que na altura como eu tinha uma gravação com alguma qualidade desse LP numa cassete TDK de Crómio, pedi a um colega de trabalho para converter-la para CD usando um programa que ele tinha sacado na então nascente internet (o qual tinha conseguido crackar – isto de procurar códigos e formas de dar a volta ao sistema não é só de agora).
Assim fiquei eu contente durante estes anos todos com uma cópia mais ou menos de qualidade do LP.

Eis senão quando recentemente numa busca pela net descobri já estar à venda (e há já algum tempo) o famigerado CD original que inclui inclusivé faixas extra! A etiqueta é a Angel Air.

Posso assim encomendá-lo calmamente pela net na amazon para poder ouvir em todo o seu esplendor novamente esse “Screaming Jets” na voz de Johnny com coro de, nem mais nem menos, Peter Gabriel!

Um clássico e uma gema de grande quilate este “Walking Into Mirrors” de Johnny Warman.

Tuesday, June 26, 2007

A Balada de Cabelo Ruivo

O meu primeiro contacto com Auclair foi nas páginas do Tintim. Ainda nem sabia o que era aquilo da Banda Desenhada. As primeiras pranchas d’ “Os Peregrinos” ficaram na memória. Achei tudo aquilo diferente, a história era no presente e simultaneamente no passado e no futuro. Só muito depois soube o que queriam dizer termos como ‘ficção científica’ ou ‘futuro apocalíptico’. Lembro vagamente ter folheado as páginas e achar logo ali que a história tinha um traço diferente das outras, mais para gente crescida (eram duas páginas, como era usual na revista, com continuação para a revista seguinte).
Mais tarde – algum tempo mais tarde – consegui convencer a minha mãe a comprar alguns livros da agora extinta colecção de banda desenhada da Bertrand. Aí tomei conhecimento com o início da saga: o “Clã dos Centauros”. E aí fiquei ainda mais perplexo, pois achei que a série tinha regredido no tempo completamente, quando afinal ‘aquilo’ era passado num futuro pós-apocalíptico em que os governos, os estados, a humanidade no geral tinha quase voltado ao paleolítico, isto no primeiro volume da série pois os seguintes iriam mostrar a fibra de que era feito Auclair. Que fenomenal!
Anos depois (muitos), descobri que havia ‘o início’, um episódio-piloto que dera origem a esta fabulosa saga de “Simon du Fleuve” (já repararam como ‘Simão do rio’ não sou nada bem). E porque raio não existia esse bendito album? Parece que um problema de direitos de autor torpedeou a sua publicação. Pois é. Devido a uma insistência de plágio de uns herdeiros dos direitos de uma obra ("Le chant du Monde", de Giono), o nosso amigo Simão ficou orfão das origens durante décadas. Até que se publica em livro, primeiro em edição clandestina, e mais recentemente incluída numa biografia de Auclair (e simultaneamente uma homenagem): “La Dame Noir”.
Essa história inédita original chama-se “La Ballade de Cheveu Rouge”.
Claude Auclair faleceu em Janeiro de 1990. Acabaram-se as baladas, as mensagens ecológicas, os futuro pós-apocalipse. Extingui-se o bardo que cantava como ninguém a opressão das gentes.
Se houve leitura que marcou a minha adolescência foi sem dúvida a sua ‘Chronique des temps à venir...’

Monday, June 25, 2007

Passeio por Reguengos e arredores


Dia 1 – Chegada a Reguengos já quase à meia-noite. O hotel fica mesmo antes da rotunda, “se passar a rotunda é porque se enganou”, bem disse a simpática Sandra ao telefone. Afinal o Googlemaps serviu para alguma coisa. A entrada do hotel fica ali mesmo antes da rotunda do lado esquerdo. Não há que enganar.

O hotel tem boa aparência logo no primeiro olhar. Faz lembrar um Monte dos contos alentejanos de Namora. Passa-se a porta grande e entramos numa espécie de cruzamento entre uma mansão almorávida e romana. Lá dentro a decoração é típica sem cair no rídiculo. As várias zonas de estar e os tectos abobadados do piso térreo em tijolo dão um ar acolhedor ao viajante. O “Môet et Chandon” espera-nos no quarto (tratamento VIP como dizia a promoção, que isto de “champagne” não é qualquer um!)

Dia 2 – O pequeno-almoço é o normal para um hotel de quatro estrelas. Não falta nada. Excepto tranquilidade matinal (“é meu,ó mãe! é meu, meu, meu!” “Então Maria, não grite!” “É meeeeu!”).

Já ia na degustação dum pão-de-leite com queijo, fiambre e paio quando a empregada atenciosamente diz se quisermos também podem fazer umas torradas ou ovos mexidos... Hummm! Elas que venham então. As torradas e os ovos mexidos!



Seguimos então caminho até à herdade do Esporão (tratamento VIP, lembram-se?) para uma visita guiada ao processo que dá origem ao vinho e às caves do famoso nectar. Vale a pena. A temperatura cá fora já ronda os 35º mas a 30 metros abaixo do solo estão apenas 16º. Temperatura natural. Após a visita vem a prova de um vinho pouco usual: rosé. Entretanto a vista do alpendre da casa onde estamos, que inclui o restaurante, bar e loja é soberba. Ao fundo vê-se água, “não é do Alqueva é mesmo uma barragem da propriedade”, o que torna a paisagem bastante tranquila e refrescante. Mais uma vez a sensação de estar numa villa romana é grande (inclusivé tem um claustro que está num piso inferior, onde fica o restaurante). Ao fundo depois do lago, um monte alentejano. Será de quem? “pertence ao Dr. Roquette” responde com um misto de deferência a nossa guia. Também quero um.

O almoço vai ser em Reguengos. Onde comer então? Como não fizémos o trabalho de casa não temos qualquer referência. Vamos ao acaso. Na praça principal há dois restaurantes. Assim de repente não gostamos do primeiro que vimos, ademais está com pouca gente o que é sempre um índice de referência nestas coisas. Vamos ao seguinte. Este já nos parece com melhor aspecto. E está cheio. “Migas de espargos”. Estava bom para o preço e o serviço até foi simpático.

A caminho de Monsaraz. O calor aperta e no carro o ar-condicionado é uma coisa que vem mesmo a jeito nestas alturas. Seguimos pela estrada errada pois queríamos passar em S. Pedro do Corval antes de seguir até à vila altaneira. Segundo a marcação feita pelo hotel temos direito a uma visita guiada a uma das olarias que fazem desta localidade alentejana o “centro da olaria de Portugal” (cartaz à entrada da aldeia dixit). Lá chegando, depois de uma volta pelo bilhar grande, ficamos bastante desapontados com o cenário. Além do calor ser muito, a louça em exposição debaixo de um telheiro de lusalite só o agrava. Após chegar à fala com o (aparente) responsável pelo sítio, decidimos deixá-lo entretido com o grupo de compradores que já lá estavam e cujo interesse em negociar as peças desejadas, fazia pensar numa cena qualquer nas medinas de Marrocos. Ála para Monsaraz!



A aldeia é bela. Muito bela. O branco das casas e o empedrado das ruas, a planície em volta, as muralhas. Por acaso parece que tivémos sorte pois os turistas são em pouco número (obviamente nós excluídos!, turistas são os outros, aqueles que vêm de auto-pullman). Desde a última vez uma coisa mudou na paisagem: a água no horizonte da albufeira nova. À saída em vão procurámos o menir. Raio do menir que não aparece. Será que foi engolido pelas águas d’Alqueva?



De volta ao hotel, vamos relaxar na piscina. Enfim, no tanque grande onde estão uns miúdos a saltar e chapinhar com uma bola. Por acaso o cenário é relaxante. Repito-o, faz lembrar uma villa romana. Ao fim de alguns olhares de poucos amigos lá conseguimos que a mamã diga ao João para virem brincar mais para junto dela. O João, a Joana e o macaco simão lá se deslocam sem grande convicção para o lado esquerdo da piscina. Hummm, até que sabe bem a água fria no corpo quente. Já só faltam aparecer mesmo a Maria, o José e o menino Jesus...

Onde jantar? Repete-se a cena do almoço. Já agora convinha encontrar outro sítio para não repetir a dose. Lá nos indicam mais duas casas de pasto alternativas, além daquela que já tinhamos descoberto. Escolhemos uma delas depois de passar pela outra (é usado o mesmo índice de referência anterior na escolha). Sendo especialista em grelhados optamos por pedir “secretos de porco” e até que foi uma boa escolha. O preço e o serviço também são simpáticos.

Dia 3 – Chegou a hora de regresso a casa. Não sem antes parar em Évora essa cidade património mundial. A meia hora de Reguengos chegamos lá perto do meio-dia. Tempo suficiente para passear antes do almoço e voltar a rever as ruas, praças e arcadas, e claro o Templo Romano em tempos dito erradamente de “Diana” (já não sei quem mas foi um Eborense que desmontou os argumentos que lhe davam essa atribuição, fazendo vingar o nome mais correcto de “Romano” apenas).



Algures entre a praça do Giraldo e a Sé, paramos numa loja com uns azulejos pintados à mão. Antes de sair pergunto à simpática senhora onde se pode comer bem sem ser para turista ver. Automaticamente vem à calha o Fialho e outro que me é novo: Luar de Janeiro. Não vale a pena elaborar sobre as preferências da anfitriã, mas acabo por escolher o segundo porque o primeiro já conheço.



E que surpresa é esse Luar! Ao mesmo nível do outro (tanto em preço como em qualidade), somos no entanto muito bem recebidos pelo Sr. Prates que faz toda a diferença. E na boca fica esse Torrão Real. Que delícia! E vivam os doces alentejanos!


E hoje já é segunda-feira...

Friday, June 15, 2007

Hello World

...and the Celestial Spheres turn and turn and turn.

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